Com o Teatro Dante Barone lotado, a Votorantim Metais apresentou na manhã desta quarta-feira (19) o projeto Caçapava, que prevê a instalação de três cavas a céu aberto para a mineração de zinco, cobre e chumbo na região das Guaritas, às margens do Rio Camaquã. O coordenador de projetos da empresa, Paul Cézanne, sustentou que o empreendimento significa um investimento total de R$ 550 milhões, tem uma vida útil de 20 anos e deve gerar 450 empregos diretos, devendo iniciar as operações em 2020. O projeto está em análise na Fepam, que deve concluir o trabalho de licenciamento até o primeiro trimestre de 2018.
Cerca de 500 pessoas estiveram na audiência, entre representações dos municípios atingidos pelo projeto, entidades ambientais, prefeitos, vereadores e outras autoridades públicas. A proposta de realização do encontro foi do deputado Luiz Fernando Mainardi (PT). Participaram dos debates, que se prolongou até às 14h30min, além das entidades convidadas, 18 deputados, dentre os quais o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Edegar Pretto.
Primeiro a falar, Mainardi posicionou-se contrário ao empreendimento. Para ele, o projeto não traz o desenvolvimento propagandeado e gera uma situação de risco ambiental inadmissível. Segundo o parlamentar, existem experiências que demonstram que a mineração de metais pesados, como o chumbo, é danosa para a saúde das pessoas e para o meio ambiente. O deputado salientou, também, que a contaminação por chumbo é extremamente agressiva e pode acontecer até mesmo pelos resíduos que sobram no ar.
Ao se pronunciar, o presidente da Assembleia Legislativa, Edegar Pretto defendeu que o Parlamento tem a obrigação de acolher todos os pontos de vistas, mas se declarou contrário à mina. Para ele, que esteve recentemente em ato realizado às margens do Rio Camaquã, na localidade de Palmas, em Bagé, a proposta da Votorantim traz repercussões negativas para o bioma Pampa e suas características geográficas e econômicas.
O representante da Associação para o Desenvolvimento do Alto Camaquã (ADAC) e funcionário da Embrapa, o veterinário Marcos Borba, contrapôs os argumentos de que os projetos de mineração são um bom caminho para o desenvolvimento da região. Segundo ele, o arranjo produtivo local desenvolvido pela ADAC, que prevê a produção sustentável de ovinos, entre outros produtos, tem um potencial muito maior de geração de renda, além de ser menos concentrador.
Na mesma linha, o membro da União Para a Preservação do Camaquã (UPP), Marco Blanco, disse que o projeto da Votorantim é "um rato na cozinha". Ele lembrou que os moradores da região lutam há 10 anos para a conquista de um selo de origem para a produção do Alto Camaquã e contam com o apoio da Embrapa para os projetos de produção sustentável da agricultura e pecuária familiar.
O biólogo e professor da UFRGS, Paulo Brack, reforçou os argumentos contrário ao projeto. Segundo ele, existem cerca de 69 áreas de nascentes do Rio Camaquã no local do possível empreendimento e centenas de espécies de plantas ornamentais, além de 60 espécies de frutas nativas que podem ser extintas ou comprometidas caso o projeto seja desenvolvido.
O presidente da Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembleia Legislativa, deputado Altemir Torteli, que dirigiu a reunião, disse que a discussão vai ter continuidade, com visitas a outras experiências similares, reuniões com a Fepam, que embora convidada não compareceu à audiência, e novas audiências da Comissão.